O ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PSD) afirmou nesta segunda-feira 22 que não vê problema em ser adversário do PT nas eleições de 2024 – o que representaria o fim de uma aliança firmada no ano passado, quando ele foi candidato ao Senado apoiado pelos petistas. Em entrevista à 98 FM, Carlos Eduardo disse que, se for candidato a prefeito no próximo ano, entrará na campanha “para vencer”.
“Se amanhã eu decidir ser candidato a prefeito e se o PT já tiver candidato formalizar essa candidatura, enfrentaremos o PT. Respeitaremos, mas vamos derrotá-los nas urnas. Você entra numa campanha para vencer, sem medo de perder também. Se, ano que vem, o partido (PSD) e eu chegarmos à conclusão de que eu posso ser o candidato a prefeito, serei candidato e serei candidato contra o candidato do PT”, afirmou Carlos Eduardo.
Apesar de já prever um rompimento, Carlos Eduardo enfatizou que segue aliado da governadora Fátima Bezerra (PT) e que buscará o apoio do PT em 2024. Ele declarou que conversará com todos os partidos que quiserem dialogar, “da extrema esquerda à extrema direita”. “Vou buscar o apoio de todos”, acrescentou.
Ele também rechaça a pecha de “traidor”, que os adversários tentam impor a ele. “Eu não tenho isso. Esse negócio de traição é coisa de jornalista regiamente pago para difamar e tentar caluniar”, afirmou.
Pela primeira vez desde que perdeu a disputa para o Senado em 2022, Carlos Eduardo admitiu que pretende disputar a Prefeitura do Natal no próximo ano. “Eu desci as escadas do Palácio Felipe Camarão, em 2018, com gostinho de quero mais. Eu gostava de ser prefeito de Natal. Para mim, era um estado de espírito. Eu dormia e acordava nesse estado de espírito, preocupado com a cidade, realizando as obras”, assinalou.
Recém-filiado ao PSD, após passar 14 anos no PDT, o ex-prefeito de Natal disse ter recebido da direção do novo partido o compromisso de que ele terá autonomia para comandar a legenda em Natal. “Terei toda a liberdade e independência de fazer as alianças necessárias para disputar a eleição”, destacou. Ele citou que tudo já foi acertado com a presidente estadual do partido, a senadora Zenaide Maia, o marido dela, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Jaime Calado, e o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab.
Entre as possíveis alianças para 2024, ele não descarta uma composição com o atual prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), que foi seu sucessor na prefeitura. “Não existe nenhum diálogo entre Álvaro e eu. Mas interlocutores dele já conversaram comigo. Já conversaram e eu disse que era um político sem retrovisor. Eu não tenho retrovisor. Acho que você tem que examinar o cenário e agir com pragmatismo”, pontuou.
‘Álvaro ofereceu filho para ser vice de Fátima e quis me dar o osso’
Durante a entrevista à 98 FM, Carlos Eduardo revelou, ainda, detalhes das conversas que manteve com adversários antes de decidir ser candidato a senador com apoio do PT. Ele disse ter rejeitado a oferta da oposição de ser candidato a governador porque percebeu que a ideia do grupo era apenas tê-lo como suporte de Rogério Marinho (PL), que era o candidato ao Senado da oposição.
No fim das contas, Carlos enfrentou Rogério e foi derrotado. O candidato da oposição a governador foi Fábio Dantas (Solidariedade), que terminou em 2º lugar.
Carlos Eduardo disse que, durante as articulações, descobriu que Álvaro Dias chegou a oferecer o filho – o hoje deputado estadual Adjuto Dias (MDB) – para ser candidato a vice-governador na chapa de Fátima, ao mesmo tempo em que negociava com a oposição para ter Carlos Eduardo como cabeça de chapa. Revelou, ainda, que Álvaro Dias o chamou para reunião e, em duas oportunidades, disse ser porta-voz do presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PSDB), e de Rogério Marinho.
“Em janeiro de 2022, ano da eleição, o prefeito Álvaro Dias me liga me convidando para uma conversa na casa dele. Lá estariam presentes Ezequiel Ferreira e Rogério Marinho. Eu fui para a conversa, mas 40 minutos depois eu disse: ‘Ô, Álvaro, cadê Ezequiel? E Rogério?’. Ele disse: ‘Eles não puderam vir, mas eu falo aqui pelos dois’. E eu disse: ‘Olha: você está me convidando para ser candidato a governador. Isso é uma conversa muito séria. Não posso pensar numa decisão dessa por recado. Então, eu acho melhor a gente remarcar essa conversa’. Quinze dias depois, ele me liga. Eu cheguei lá, a mesma história. Um tempo depois eu disse: ‘Cadê Ezequiel e Rogério?’. Ele falou: ‘Não puderam vir, mas eu falo por eles. Eles disseram que o que eu dissesse estava bem dito’. Aí eu disse: ‘Isso não é uma coisa que a gente leva em consideração’”, contou.
E continuou: “Eu simplesmente saí da conversa e interlocutores da governadora e pessoas ligadas a mim promoveram um encontro meu. Perguntaram se eu conversaria. Diante da situação, aceitei a conversa. Me dissera: ‘Você pode ser o candidato ao Senado. A gente pode construir isso’. Eu falei: ‘Mas eu tenho uma conversa que não se concretizou, mas eu quero exaurir essa situação’. E falei de Álvaro. Eles afirmaram: ‘Não sei porque o prefeito Álvaro está com essa conversa, porque ele está oferecendo o filho dele para ser um provável vice da governadora’”, acrescentou o ex-prefeito.
Ele finalizou: “Em suma, eles queriam me dar o osso, queria que eu enfrentasse o Governo do Estado; com Fátima bem avaliada; que enfrentasse Lula, que é Frei Damião no interior; Fátima e Lula vinculados, fortíssimos; e eles iriam ficar com a vaga do Senado. Eles me davam o osso e iam ficar com o filé”, afirmou o ex-prefeito.
‘Na campanha ao Senado eu não tinha o direito de falar’
O ex-prefeito de Natal fez também uma avaliação sobre a disputa para o Senado em 2022. Para ele, o pleito foi desigual, já que, mesmo circulando com Fátima Bezerra, ele não teve condições de aproveitar a popularidade do PT no interior do Estado. Ele cita que a maioria dos prefeitos que apoiavam a candidatura à reeleição da governadora estavam com o candidato adversário ao Senado: Rogério Marinho.
“Eu chegava numa cidade, o prefeito estava na porta. ‘Carlos Eduardo não fala. O carro de som de Carlos Eduardo não entra. E, se entra, é calado’. Em muitos municípios, os carros de som não citavam meu nome como candidato. A governadora não. Quando ela falava, ela citava meu nome e pedia voto, mas você sabe que o eleitor gosta de ver o candidato falar. O MDB tem 38 prefeitos. 37 votaram em Rogério Marinho. Para você ver onde eu estava”, destacou.
Carlos Eduardo enfatiza que a disputa para o Senado foi a “pior campanha” que ele já enfrentou. “Eu disse: ‘Governadora, eu já fui candidato a governador contra o PT, Alves, Maia, Wilma, contra governo. Mas eu pelo menos eu comandava a campanha. Eu chegava no município e falava. Essa foi a pior campanha para mim, porque eu não tinha o direito de falar, de propaganda”, destacou o ex-prefeito.
Outro fator que contribuiu para a derrota, segundo ele, foi a candidatura de Rafael Motta (PSB), que dividiu votos do eleitorado de esquerda.
“O projeto de Rafael era um projeto pessoal. Era um projeto individual. Ele queria ser um candidato messiânico. A candidatura dele não foi fruto de uma discussão. Eu acho que o eleitor do PT politizado ele sabia que isso era um projeto individual, pessoal dele. Agora, teve muito fogo amigo. Ele não tirou nenhum apoio de Rogério. Todos os apoios que ele teve foi tirando meu. O PT tem quatro prefeitos. Dois votaram em mim e dois em Rafael”, destacou.
Apesar disso, ele cita que figuras do PT se empenharam em sua campanha, e citou, além de Fátima Bezerra, os prefeitos Eraldo Paiva (São Gonçalo do Amarante) e Odon Júnior (Currais Novos) e o deputado federal Fernando Mineiro.