Ney Lopes
Até ontem, 27, a “a gripezinha” do coronavírus fez 2.466.764 vítimas no Brasil e 88.293 mortos.
As estatísticas lembram o personagem “Happy”, do filme “O Coringa”, que trabalhava numa empresa de “palhaços”, todos cercados pelo individualismo, extrema desigualdade social e profunda crise política e moral. As consequências da Covid 19, que não são iguais para todos, têm certas semelhanças.
Enquanto a maioria da população luta para não perder emprego, o patrimônio de 42 bilionários brasileiros saltou de U$ 123,1 bilhões para US$ 157,1 bilhões, até junho, segundo a revista “Forbes”.
Na América Latina, 73 bilionários aumentaram suas fortunas em US$ 48,2 bilhões. Isso equivale a um terço do dos estímulos econômicos dos países latino americanos, juntos. Os lucros têm origem em vários setores.
As transações “on line” da “Amazon”, pertencente a Jeff Bezos, o homem mais rico do mundo, indicam aumento de vendas de U$ 11 mil dólares por segundo.
Outros negócios cresceram: entretenimento doméstico (tipo Netflix); entregas (do tipo Fedex americana); farmácias, laboratórios farmacêuticos e empresas de biotecnologia; supermercados, venda de desinfetantes e serviços de teleconferência.
Não se trata de criticar quem acumula riqueza honestamente.
Trata-se de uma reflexão sobre o futuro, após pandemia. O mundo não poderá conviver com tanta desigualdade social. O “direito de viver” será tão fundamental, quanto o “direito de ir e vir”, sem que isso signifique igualdade de classes, mas sim igualdade de oportunidades.
Os países terão que buscar recursos, através de mais justa distribuição das riquezas e incentivar a “reinvenção” das pessoas, em empreendimentos inovadores.
Curiosamente, 83 donos de grandes fortunas publicaram manifesto, pedindo para os governos cobrarem mais impostos dos mais ricos. Veja-se, por exemplo, que quando o sistema fiscal internacional foi desenhado, há mais de cem anos, não existiam as plataformas digitais. Até hoje, essas plataformas operam isentas de impostos.
Tal conjuntura terá que mudar.
Só resta encontrar o consenso de como mudar, sem ferir as liberdades, inclusive às econômicas, que são fundamentais.