O atentado de Juiz de Fora transformou em mártires dois candidatos: Bolsonaro, no hospital e Lula, na prisão. A consequência é a polarização do debate eleitoral em torno de “pró e anti PT”, ao invés da polêmica ausência do ex-presidente na eleição.
A divisão do Brasil entre “nós” e “eles” teve início desde o “Fora FHC”, liderado pelo PT, causando instabilidade à governabilidade. Os choques começaram em 2005 (mensalão) e em 2013, com os “black blocks” e “manifestações de rua”.
Prosseguiram em 2014, com o questionamento dos resultados e o impeachment em 2016. Tais sinais de exacerbação política geraram, em março passado, “os tiros” contra a comitiva do ex-presidente Lula da Silva, cujas investigações estão inconclusas.
O grande beneficiário dessa polarização, agravada com o aumento crescente da violência urbana, foi o deputado Jair Bolsonaro Ele surgiu e entrou em cena, dizendo o que o povo quer ouvir.
Em tais circunstâncias, certo percentual do eleitorado deixa de refletir sobre a verdadeira função de um Presidente da República e raciocina pela lógica do “messianismo”, buscando candidato “útil e estratégico”, que salve a nação da catástrofe e erradique a violência.
No primeiro momento da lamentável tragédia de Juiz de Fora, um dos filhos de Bolsonaro usou politicamente o ocorrido, ao declarar: “acabaram de eleger um presidente”.
Ele esqueceu a hipótese do seu pai ter sido vítima do barril de pólvora que apregoa na campanha, além da “retórica de risco”, cujos exemplos são o comportamento com as mulheres, a indagação feita a uma criança – você sabe atirar? Sabe dar tiro? – e a disposição de “fuzilar a petralhada”.
O psicanalista Christian Dunker, da USP, interpreta que o discurso político violento estimula as armas, as paixões de ódio e fascinação, desequilíbrios, transtornos, opressões, atraindo pessoas para atitudes extremas. Margareth Thatcher dizia que é preciso ter cuidado com o que se diz, porque a palavra vira ato.
As últimas pesquisas apontam que o atentado não mudará a eleição. Muito pouco o crescimento de Bolsonaro, de 22 para 24 por cento (margem de erro).
A rejeição sobe de 39 para 43%, perdendo em todas as simulações no segundo turno. Esses fatos preocupam os seus correligionários, que já procuraram o famoso marqueteiro americano Arick Wierson, cuja recomendação é Bolsonaro abandonar o discurso agressivo e escrever, do leito do hospital, uma carta à Nação, deixando claro que apoia a democracia e não levará ao Planalto uma agenda racista e homofóbica.
Algo parecido com o que Lula fez em 2002 (“paz e amor”).
A proposta encontra resistência, no grupo do general Mourão.
Outra consequência das pesquisas recentes é a certeza do segundo turno, com Bolsonaro presente. Os seus adversários prováveis seriam Haddad (Lula “bateu o martelo” e o lançou candidato, acreditando nos benefícios da passionalidade pela sua ausência), ou Ciro Gomes, que mostra um discurso competente e atrai segmentos do centro, com propostas objetivas. Marina Silva cai nas pesquisas.
Ela não se posicionou contra a prisão de Lula e o apoio à Aécio Neves em 2014 causou-lhe desvantagens.
Em cenário turbulento, o mais prejudicado será Alckmin entregue ao “centrão” e ao “mercado” (46% apostou nele), que já “pularam fora do barco”, confirmando a “fidelidade histórica” somente aos governos, como aconteceu com Lula, Dilma e outros que virão. O tucano poderia ter “focado” o eleitorado anti-Lula.
Ao atingir Bolsonaro, não sensibilizou bolsonaristas, nem esquerda. Até Amoedo “tira” votos de Alckmin
Na história do mundo há exemplos de tragédias às vésperas de eleições decisivas, que nada influíram no resultado final. A deputada britânica Jo Cox, em 2016, favorável à permanência da Inglaterra na União Europeia, sofreu atentado e morreu, uma semana antes do plebiscito (Brexit).
Os ingleses saíram do bloco europeu. Dias antes do referendo sueco sobre a adesão à zona do euro, a ministra do Exterior Anna Lindh foi morta em atentado. Ela defendia o “Sim” e os suecos votaram “Não”.
Diante de tantas incertezas, talvez prevaleça no pleito de 2018, o “voto da exclusão” (o menos ruim).
Nesse caso, o jornalista Elio Gaspari teria razão ao escrever, que “quando o voto de exclusão supera o de preferência, consegue-se barrar aquilo que não se quer, mas não se elege um presidente”.