
A tarde desta segunda-feira (31) foi de bate-papo, reconhecimento e enaltecimento à figura das mulher na política potiguar. Iniciando o projeto “Memória Potiguar”, o Memorial do Legislativo Potiguar promoveu debate sobre a trajetória e história da curraisnovense Maria do Céu Fernandes, a primeira deputada estadual do Brasil. Familiares, parlamentares e autoridades acompanharam a discussão, que encerrou o mês das mulheres em grande estilo.
A mesa-redonda “Maria do Céu Fernandes: além da primeira deputada” foi mediada pela jornalista Hilneth Correia, contando com as participações da deputada estadual Cristiane Dantas (Solidariedade), da advogada Adriana Magalhães e de Olindina Fernandes, filha de Maria do Céu Fernandes e que trouxe relatos sobre a intimidade da ex-deputada.
Nascida em 6 de novembro de 1910, ela era uma educadora que, aos 24 anos, conseguiu se tornar deputada estadual. Seu mandato se destacou pela luta pela educação e pelos direitos das mulheres, em um contexto no qual a participação feminina na política ainda era uma novidade e por diversas vezes atacada pelos homens.
“É uma potiguar que muito nos orgulha, uma mulher à frente de seu tempo. Ela, sempre de cabeça erguida, corajosa e destemida e fazendo toda a diferença, foi uma cabeça pensante e genial. Merece todo louvor porque veio para fazer história e abriu caminho para que nós estejamos aqui, com a maior bancada feminina da história da Assembleia”, disse a deputada Cristiane Dantas, que presidente a Procuradoria da Mulher da Casa. “Foi uma mulher que sempre valorizou a educação, muito estudiosa, que falava três línguas, e era um grande feito para as mulheres àquela época”, disse.
Também participando da discussão, a advogada Adriana Magalhães falou um pouco sobre as pesquisas que fez sobre a ex-deputada Maria do Céu Fernandes, quando estava produzindo seu livro “As mulheres e os espaços de poder no Rio Grande do Norte”. Quando esteve como juíza do Tribunal Regional Eleitoral, jurista disse que começou a pesquisar sobre os espaços das mulheres e foi surpreendida com a constatação de que pouquíssimas mulheres passaram a ocupar espaços decisórios ao longo da história.
“Comecei (a pesquisa) pelo Judiciário, depois fui para o Legislativo e fui pesquisar sobre os municípios na pandemia. Visitei 120 para pesquisar sobre vereadoras, prefeitas e vice-prefeitas. A história de Maria do Céu Fernandes é inspiradora e é importante que se reconheça o Memorial da Assembleia como uma excelente fonte, onde pudemos observar fotos icônicas de Maria do Céu Fernandes”, disse a advogada, referindo-se às imagens que hoje estão à disposição do público no Memorial do Legislativo Potiguar.
Além do resgate dos feitos da deputada, o perfil da mãe Maria do Céu Fernandes também foi relatado. Olindina Fernandes, filha da ex-deputada, relatou a dificuldade da relação que teve com a mãe durante boa parte da juvetude, especialmente na adolescência. “Vivi em uma casa cheia de gente, por serem pessoas políticas. Os quartos eram cheios, a casa inteira”, relembrou, relatando ainda o período em que foi interna do colégio Imaculada Conceição. Porém, um problema familiar aproximou mãe e filha.
“Quando eu estive casada, ainda muito jovem, me divorciei e retornei para a casa dela. Começamos a nos dar bem e ficamos muito amigas. A relação mudou bastante”, falou, sem deixar de enaltecer e reconhecer o legado deixado por Maria do Céu Fernandes.
Durante o bate-papo, os presentes na plateia também puderam dar suas contribuições, como o diretor-geral do Legislativo, Augusto Carlos Viveiros, e a diretora-geral da Presidência, Dulcinéa Brandão. Todos resgataram passagens históricas de Maria do Céu Fernandes pela Política potiguar.
A jornalista Hilneth Correia também enalteceu a “força e coragem de ser uma mulher no meio de tanta violência política”, ressaltando que a situação hoje, apesar de longe da ideal, era muito pior durante a juventude de Maria do Céu Fernandes. Para a mediadora do debate, é preciso que as mulheres que marcaram a história do Rio Grande do Norte sejam enaltecidas.
“É preciso termos união para mostrar cada vez mais ao RN a história das mulheres potiguares, das mulheres que passaram pelo Legislativo, deixaram e estão deixando suas marcas”, convocou.
A primeira edição do projeto Memória Potiguar teve transmissão ao vivo promovida pela Diretoria de Comunicação Social da Assembleia e está disponível no canal www.youtube.com/AssembleiaLegislativadoRN.