Clérigos foram detidos em 19 de março. Investigação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) apontou que grupo teria desviado R$ 2 milhões dos cofres da diocese.
Desembargadores aprovaram, por unanimidade, o habeas corpus do bispo Dom José Ronaldo Ribeiro e os outros padres presos na operação que apurou desvio de mais de R$ 2 milhões em dízimos da Diocese de Formosa. A decisão é de 13h20 desta terça-feira (17), e o alvará de soltura deve ser expedido até o final do dia.
A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) confirmou que os documentos estão sendo confeccionados. Depois, o documento será enviado ao Fórum de Formosa e, então ao presídio da cidade. O advogado do bispo, Lucas Rivas, disse que pautou a defesa em três pontos.
“[Argumentamos] Que não procedem as alegações de associação criminosa, que o dom Ronaldo não representa risco à instrução criminal e que também não representa risco à ordem publica”, declarou.
O julgamento era específico para um pedido feito pela defesa do bispo, mas, após sustentação oral de Rivas, os desembargadores decidiram estender a decisão ao restante do grupo. O advogado impetrou oito habeas corpus para pedir a soltura de Dom José Ronaldo.
Advogado dos outros sete detidos, Thiago Santos Aguiar de Pádua disse que as provas do MP-GO não se sustentam. “Daquela fumaça toda produzida pelo promotor e pelo juiz, fica clara a perseguição religiosa”, declarou.
Os desembargadores determinaram que o passaporte do bispo ficará retido, ou seja, ele está proibido de sair do país. O jornal procurou o promotor que investigou o caso, Douglas Chegury para comentar o caso, mas ele disse que ainda não foi informado sobre a decisão.
Prisões
Além de Dom José Ronaldo Ribeiro, o juiz eclesiástico Tiago Wenceslau, o monsenhor Epitácio Cardozo, três padres e dois empresários estão presos desde 19 de março apontados como envolvidos no esquema. Os oito estão em uma ala isolada do recém-inaugurado presídio da Formosa.
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informouàs 14h ainda não ter sido comunicada sobre o habeas corpus.
O juiz Fernando Oliveira Samuel, da 2ª Vara Criminal de Formosa, determinou em 27 de março o bloqueio de bens dos seis clérigos, dois empresários e do secretário da Cúria. O limite é de até R$ 1 milhão por cada. Também foi autorizada a quebra do sigilo bancário e fiscal dos acusados.
Gestor temporário da Diocese de Formosa e arcebispo de Uberaba (MG), Dom Paulo Mendes Peixoto criticou o bispo preso e disse que recebeu “caixa vazio e com dívida”. A nomeação dele foi feita pelo Papa Francisco. Ele auxiliará nas atividades da paróquia da região até que seja nomeado um novo bispo.
Investigações
As investigações sobre o desvio de dízimo começaram no ano passado, após denúncias de fiéis. Eles afirmaram que as despesas da casa episcopal subiram de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde a chegada do bispo Dom José Ronaldo, em 2015. Na ocasião, o clérigo negou haver irregularidades nas contas da Diocese de Formosa.
Segundo o MP-GO, o grupo se apropriava de dinheiro oriundo de dízimos, doações, arrecadações de festas realizadas por fiéis e taxas de eventos como batismos e casamentos. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça foram usadas na apuração. O grupo teria comprado uma fazenda de gado, carros de luxo e uma lotérica com os recursos.
A operação culminou com apreensões em Formosa, Posse e Planaltina. Durante as apreensões, foi encontrado dinheiro escondido em fundo falso de armário.
Outras acusações contra o bispo
O advogado Lucas Rivas disse que não vai comentar as acusações que surgiram contra o bispo fora do processo. Entre elas, está o uso de cartões da Igreja para compra de bebidas alcoólicas. De acordo com boletim de ocorrência, houve gasto de R$ 4 mil indevidamente.
Além disso, fiéis afirmam que Dom José Ronaldo aumentou em até 400% taxas de casamento quando assumiu a administração, em 2014. As mesmas informações chegaram ao MP-GO) por meio do depoimento de um dos padres que denunciou o esquema, mas, segundo o promotor, ainda não compõem uma apuração específica.
Atualmente, os noivos precisam pagar R$ 50 caso contratem fotógrafo, R$ 150 caso contratem filmagem e R$ 150 caso contratem decoração nas 33 igrejas administradas pela Diocese de Formosa. Além disso, devem gastar mais R$ 280 para cobrir despesas com documentação.