Dinheiro seria retirado do país por executivos da RecordTV, pastores do alto comando e até por Edir Macedo em seu jato particular
A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do bispo Edir Macedo, é suspeita de lavar ao menos 120 milhões de dólares por ano em Angola. A denúncia, que foi feita por bispos locais, é investigada pelas autoridades do país. Eles afirmam que a igreja também pratica racismo, abuso de autoridade e faz imposições na vida pessoal dos integrantes da religião, como cirurgias de vasectomia. As informações são do site UOL
As suspeitas de irregularidades na operação angolana da Universal não são novas. Surgiram há alguns meses e ganharam força com a retirada de vistos religiosos de pastores brasileiros, além do cancelamento do sinal da RecordTV local no decorrer de 2021 Esta, no entanto, é a primeira vez que as denúncias apresentam detalhes da operação financeira e revelam as altas cifras retiradas de Angola pelos aliados de Edir Macedo
Segundo as denúncias, 30 milhões de dólares das igrejas locais eram levados a cada três meses para a sede da RecordTV, onde o ex-diretor da emissora, Fernando Henriques Teixeira, se encarregava de ocultar o montante em carros que seguiriam até à África do Sul. De lá, partiria de avião para Portugal, muitas vezes no jato particular do próprio Edir Macedo. Outra parte do montante seria repassada a emissora que se encarregava de levar a quantia para Europa ou para o Brasil. Teixeira, apesar de ser um executivo, usaria visto de pastor para se manter no país
De acordo com os bispos, a operação ocorre há 11 anos, desde que a igreja se instalou no país. O caso fez com que o ex-diretor da Record se tornasse réu na justiça de Angola por lavagem de dinheiro e associação criminosa. O julgamento do caso está previsto para iniciar nesta quinta-feira 18 e inclui ainda outros aliados de Edir Macedo. São eles: Honorilton Gonçalves, ex-vice-presidente da emissora no Brasil e líder da Universal em Angola; Valdir de Sousa dos Santos, pastor da IURD; Antônio Pedro Correia da Silva, ex-representante legal da igreja e da Record no país africano.
Os denunciantes também acusam a igreja de retirar outra parte do dinheiro do país usando caravanas de fiéis. A operação montada dividiriam altos valores entre dezenas de pastores e fiéis de confiança que, com a desculpa de uma peregrinação religiosa, deixariam Angola com o montante na mala. Ao chegar no destino, o dinheiro era entregue a um representante da igreja para ser lavado. O esquema teria sido montado em diversas ocasiões em Tel Aviv, Israel, para onde o grupo de 200 fiéis se deslocava em voo direto de Luanda fretado pela IURD.
Segundo o site, o sucesso das caravanas da IURD para Tel Aviv possibilitou a construção do Templo de Salomão, em São Paulo. A sede da igreja tem 98 mil metros quadrados de área construída e custou cerca de 680 milhões de reais.
Os bispos que denunciaram o funcionamento do esquema ilegal fazem parte da chamada ‘reforma’ da Universal no país. Ao todo, são 330 líderes religiosos africanos que romperam com as práticas abusivas da IURD e se rebelaram contra a direção brasileira.
A dissidência, que revelou outros crimes da Universal em Angola, como racismo e abuso de autoridade, fez com que a Justiça retirasse o comando dos templos angolas da direção brasileira. Pastores tiveram seus vistos religiosos retirados e mandados de volta ao Brasil, bem como o sinal de exibição da TV Record foi barrado no país. Em agosto deste ano, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, foi mandado por Jair Bolsonaro a Angola para intervir pela igreja de Edir Macedo, mas a viagem não surtiu resultados.
Esses e outros crimes da Igreja Universal são apurados pelas autoridades locais, que receberão, além dos depoimentos, documentos que comprovam as irregularidades.
“As provas colhidas foram consideradas ‘fartas e contundentes’, e nos levam à conclusão que, de fato, há branqueamento de capitais [lavagem de dinheiro] ou crimes conexos”, declarou Álvaro João, porta-voz da Procuradoria-Geral da República ao site.
Em nota, a direção africana da igreja desmentiu as acusações e disse que as denúncias são uma “versão levantada por estes ex-pastores e pastores de dissidências com o objetivo de tomar a igreja”. A direção brasileira disse que a liberdade religiosa está em risco no país e a Record não se pronunciou.