Relatório conclui que os dois e mais quatro políticos do PMDB participaram de esquema para desviar dinheiro público
A Polícia Federal (PF) elaborou um organograma para reforçar o argumento de que o presidente Michel Temer e o ex-presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha, são figuras centrais na organização criminosa composta por políticos do PMDB acusados de desviar dinheiro dos cofres públicos. São várias setas que conduzem principalmente à fotografia de Temer e, em menor grau, à de Cunha.
Nas bordas do gráfico, de onde partem as setas, há imagens de vários outros integrantes do partido, como os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e os ex-ministros Henrique Alves, Geddel Vieira Lima e Antônio Andrade.
“Numa escala de subdivisão de funções dentro do núcleo político investigado, e diante de todo o exposto nestes autos, pode-se inferir que, enquanto Eduardo Cunha fazia a parte obscura das tratativas espúrias, negociatas, ameaças e chantagem política, com grupos políticos opositores e empresários, o presidente Michel Temer, como liderança dentro do PMDB, tinha a função de conferir oficialidade aos atos que viabilizam as tratativas acertadas por Eduardo Cunha e os demais participantes, dando aparente legalidade e legitimidade em atos que interessam ao grupo, sem o que não seria possível que as demais peças da engrenagem funcionassem e, no caso em questão, que os esquemas criminosos se confirmassem”, diz trecho do relatório.
As setas do organograma ligam nove pessoas a Temer. São elas os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, os ex-ministros Geddel Vieira Lima, Henrique Alves e Antônio Andrade e mais quatro ex-assessores do presidente: José Yunes, Tadeu Filippelli, Sandro Mabel e Rocha Loures.
No caso de Cunha, as setas que ligam vão até ele parem das fotografias de Antônio Andrade e de Lúcio Funaro, apontado como operador do esquema. O próprio Funaro também é ponto de chegada para três setas do gráfico, ligando-o a Sandro Mabel, Geddel Vieira Lima e o ex-presidente da Caixa Fábio Cleto.
No relatório, a PF concluiu haver “suficientes indícios de materialidade e autoria do crime de organização criminosa atribuível ao grupo do ‘PMDB da Câmara’ integrado por Eduardo Cosentino da Cunha, Henrique Eduardo Lyra Alves, Geddel Quadros Vieira Lima, Michel Miguel Elias Temer Lulia, Wellington Moreira Franco e Eliseu Lemos Padilha”.
Ao todo, a PF apontou que Temer foi beneficiado com pelo menos R$ 31,5 milhões de vantagens indevidas. Os valores teriam sido pagos pela Odebrecht e pelo grupo J&F, controlador da JBS. Além disso, teria pedido R$ 5,64 milhões para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo em 2012. Também citou doações para a campanha de Paulo Skaf ao governo paulista, mas sem mencionar valores.
“De forma consistente, foi apontado como uma das figuras centrais beneficiadas em pagamentos pelo Grupo JBS, inclusive com possível recebimento de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), por intermédio do ex-deputado federal e ex-assessor Rodrigo da Rocha Loures”, diz outro trecho do relatório.
No organograma apresentada em setembro do ano passado, o MPF mostrou 15 diagramas. Um deles, em posição central, trazia o nome de Lula. Os outros 14, localizados na borda, tinham setas que levavam para o diagrama central e diziam, entre outras coisas: “mensalão”, “José Dirceu”, “petrolão + propinocracia” e “enriquecimento ilícito”.