Quando vemos as imagens dos índios Yanomamis desnutridos e acompanhamos o genocídio que ocorreu na região, em Roraima, nos últimos anos, vem a comprovação de que a atenção aos povos originários era precário e sem qualquer prioridade no Governo Bolsonaro.
A Funai, Fundação Nacional dos Povos Indígenas, foi reduzida a quase nada através de decretos que cortaram suas funções. Um dossiê de 200 páginas realizado por servidores de carreira do órgão revela que a Funai estava a serviço de garimpeiros e se transformou em uma organização anti-indígena.
Em cargos estratégicos, segundo o dossiê, foram nomeados militares, policiais federais, sem qualquer aproximação com o tema, que pudessem garantir a promessa de campanha feita pelo próprio Bolsonaro em discursos: “não demarcar um centímetro de terra indígena”, disse em fala gravada que agora circula em redes sociais.
Em outros ministérios, Bolsonaro substituiu cargos ocupados por servidores públicos ou conhecedores profundos do tema, por pessoas, sem nenhum vínculo com a administração pública, que seguissem o mesmo pensamento do presidente, a destruição intersetorial da assistência aos povos originários.
O blog apurou o assunto detalhadamente e encontrou um cargo estratégico no Ministério da Saúde para garantir atenção aos povos indígenas ocupado por uma potiguar.
A odontóloga Midya Hemilly Gurgel De Souza Targino era Diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena entre julho de 2022 até o final do Governo Bolsonaro. O cargo de alto escalão comandava o setor “responsável pela condução das atividades de atenção integral à saúde dos povos indígenas, por meio da atenção básica, da educação em saúde e da articulação interfederativa” da Secretaria Especial da Saúde Indígena do Ministério da Saúde.
Em seu currículo, ainda disponível no site do Ministério, a dentista é formada pela Universidade Potiguar e não há qualquer experiência ou especialização com relação aos povos originários. Natural de Felipe Guerra, no Oeste, Midya Targino foi secretária de Saúde do município de Messias Targino, na época em que foi casada com o sobrinho da prefeita Shirley Targino, esposa do deputado federal João Maia.
Por indicação do parlamentar do PL, Midya Targino foi nomeada em 2020 superintendente estadual do Ministério da Saúde no RN. Em 2022, numa ascensão meteórica, assumiu o Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena, em Brasília, num cargo de terceiro maior nível do Ministério.
O Blog entrou em contato com Midya Targino para saber se havia conhecimento do caos sanitário dos povos Yanomamis e o que foi feito na região pelo departamento.
Até o fechamento da matéria ela não respondeu nossos questionamentos.
O Blog também entrou em contato com o deputado João Maia, que confirmou que Midya foi indicada por ele para a superintendência do Ministério da Saúde no RN, mas negou que seja o responsável pela indicação dela no departamento nacional. Ele também não tinha conhecimento de sua experiência com povos originários.
Fonte: Juliana Celli