Analise de Bruno Barreto
Em dezembro do ano passado (ver AQUI) uma pesquisa do Instituto Consult sob encomenda da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) fez o mais aprofundado estudo sobre a cabeça do eleitor potiguar e lá se encontrava um dado que indicava uma mudança de comportamento eleitoral no Estado: a orientação dos prefeitos no interior do Estado não é tão fundamental para grandes votações nos municípios quanto se pensa.
A pesquisa mostrava que 75,18% dos potiguares se recusavam a seguir orientações dos burgomestres de suas respectivas cidades. Alguns desdenharam apostando no de sempre: o voto de cabresto. Quem seguiu essa linha de raciocínio ignorou um processo lento que está em curso: a mudança de perfil na hora da definição do voto.
Há uma ciência do voto que envolve desempenho de governos, psicologia social, contexto político e carisma pessoal dos candidatos envolvidos.
Não deu outra nas urnas. Com apenas cinco prefeitos de cidades pequenas (Currais Novos, Portalegre, São Vicente, Ouro Branco e Felipe Guerra) Fátima Bezerra (PT) venceu em 149 cidades no primeiro turno, incluindo as que tinha apoio. Em outras 144 cidades ela não tinha o apoio do prefeito e mesmo assim venceu, incluindo Mossoró onde ainda tinha pela frente dois candidatos a vice-governador compondo as chapas dos dois principais adversários.
A maioria dos prefeitos estava com o governador Robinson Faria, mas ele venceu em apenas cinco cidades (Cruzeta, Espírito Santo, Monte Alegre, Ruy Barbosa e Taboleiro Grande). Destas somente em Espírito Santo ele teve uma vantagem superior a 10%.
Era mais importante dizer não a um governo mal avaliado do que obedecer ao prefeito de ocasião.
Para o Senado o mais votado foi o capitão Styvenson Valentim (REDE). Ele não tinha um único prefeito lhe dando apoio. Sequer tinha tempo de TV e recursos para massificação do seu número. Mesmo assim foi eleito como o mais votado em 2018.
Enquanto que o senador Garibaldi Alves Filho (MDB) que era o campeão em apoio de burgomestres amargou um humilhante quarto lugar.
Receber apoio de prefeito rende muito zunzum na mídia, cliques nos blogs e a influência da máquina. Mas isso por si só não é garantia de vitória dentro das cidades do interior como foi no passado. O eleitor está mais exigente e menos obediente aos caciques locais.
Acreditar só no recebimento do apoio de prefeitos para ampliar vantagem ou reverter o cenário no segundo turno pode se revelar uma armadilha.