O dólar fechou nesta quarta-feira, 6, na maior cotação do ano, a R$ 3,8347, menor apenas que o último fechamento de 2018, que ficou em R$ 3,8755.
Em dia de agenda doméstica fraca, as mesas monitoraram eventuais impactos do tuíte obsceno de Jair Bolsonaro sobre o carnaval na capacidade de comunicação do governo com o Congresso, mas o câmbio foi principalmente pressionado pelo exterior.
A quarta-feira foi marcada pelo aumento da aversão ao risco no mercado financeiro internacional e fortalecimento da moeda americana ante divisas de emergentes, por conta de renovadas preocupações sobre a desaceleração da economia mundial e com os investidores na expectativa pelos desdobramentos das negociações comerciais entre a China e os Estados Unidos.
Com isso, dólar à vista subiu 1,41% no mercado doméstico, a segunda maior alta nos emergentes, atrás apenas da Argentina (+2,30%).
Também contribuiu para a alta do dólar em ritmo mais forte aqui o ajuste técnico pós feriado de carnaval, quando o mercado local ficou fechado aqui na segunda e terça-feira e o dólar se fortaleceu no exterior nos dois dias, ressaltam operadores.
A sessão foi mais curta, por conta da Quarta-Feira de Cinzas, com os negócios começando às 13h. O dólar abriu em alta e operou assim durante o resto da tarde.
A moeda bateu várias máximas e chegou a R$ 3,84 após declarações do presidente da distrital de Nova York do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), John Williams. O dirigente ressaltou que o fato de o Fed afirmar que é “paciente”, como tem feito nos últimos comunicados, não é um compromisso em manter as taxas de juros inalteradas, como espera Wall Street. Além disso, declarou que não é possível dizer ainda quando a redução do balanço patrimonial da instituição vai terminar. A diminuição do balanço do Fed ajuda a reduzir a liquidez no mercado internacional e a fortalecer o dólar.
O diretor da corretora Mirae Pablo Spyer destaca que a alta do dólar foi basicamente reflexo do exterior. As declarações de Williams contribuíram para estressar ainda mais o mercado internacional de moedas, especialmente de emergentes, e fez aumentar a procura por proteção no dólar, ressalta ele. Spyer minimizou eventuais impactos no câmbio do tuíte do presidente Jair Bolsonaro, que postou um vídeo obsceno sobre o carnaval. A postagem teve repercussão internacional, foi um dos três assuntos mais comentados do Twitter no mundo, e levantou nas mesas preocupações sobre eventuais impactos negativos da comunicação do governo em um momento que o Planalto precisa buscar mais apoio no Congresso para apoiar a reforma da Previdência.
“Continuamos céticos sobre o quanto o processo de debate da reforma vai ser suave”, ressalta o economista-chefe para América Latina do grupo holandês ING, Gustavo Rangel, em relatório. Ele acredita que o texto será aprovado no Congresso, mas os ativos domésticos devem permanecer voláteis até lá, oscilando à medida que a confiança dos investidores na aprovação aumenta ou diminui durante a tramitação. Passado o carnaval, a expectativa é que o processo comece de fato, com a instalação da Comissão de Constituição e Justiça, primeiro local da tramitação, que deve ocorrer só na semana que vem.
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