Grandes exemplos femininos de superação e as ações das entidades públicas, privadas e das organizações as mais diversas em prol do empreendedorismo feminino no RN foram elencados durante a audiência pública realizada sobre o tema pela Assembleia Legislativa na manhã desta segunda-feira (29). A iniciativa foi da deputada Cristiane Dantas (SDD), cujo mandato tem se dedicado a pautas sobre as questões da mulher.
O debate acontece em alusão ao Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado no último dia 19. A parlamentar justificou a importância da discussão, que aconteceu no auditório da Assembleia Legislativa, seguindo todos os protocolos sanitários, com restrição máxima de público: “Buscar informação e as entidades certas facilita esse caminho, pois é preciso buscar projetos e meios de reduzir as barreiras para a mulher empreender, porque mulheres no poder também inspiram, encorajam e ajudam outras a empreenderem”, afirmou Cristiane.
Na ocasião também foi lembrada a campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”. “Aqui abordamos os novos caminhos que as vítimas precisam adotar em suas vidas, é essencial dialogar com diversas frentes em busca de soluções viáveis para ajudar a mulher a sair do ciclo de dependência financeira e cuidar da própria vida”, ressaltou a deputada.
A primeira explanação foi da empresária Marcia Kafensztok, que “trocou o luto pela luta”, quando perdeu seu marido de forma trágica e assumiu o comando da Primar Aquacultura, em Tibau do Sul, aonde vem realizando um trabalho tão brilhante e inovador, que conquistou o 1º lugar no Prêmio Mulheres do Agro, na categoria pequena propriedade. A Primar é a primeira fazenda de aquacultura orgânica certificada do Brasil, que produz camarões e ostras nativas.
Na sua explanação, Marcia mostrou como o Sistema Primar de Aquacultura Orgânica adota e promove práticas de manejo de baixo impacto ecológico. A propriedade possui cerca de 40 hectares de área de viveiros, fundada em 1993 por Alexandre Wainberg e iniciou suas atividades com o cultivo de camarão nativo em sistema extensivo, mas logo intensificou a produção com a introdução do Litopenaeus vannamei.
Sob seu comando, foram sendo celebrados convênios com universidades federais transformando o empreendimento num centro vivo e permanente de pesquisas, aprimorando cada vez mais as técnicas de cultivo e produção. Marcia fez um relato sobre seu ingresso no negócio, tendo que se apropriar de todo o conhecimento e dar continuidade ao trabalho e também comentou sobre o prêmio nacional: “Fiquei feliz por vários motivos, mas também porque a acquacultura foi entendida como agronegócio, pois muito confundem com a pesca, que é extrativista, e também pelo prêmio para o nosso Estado”, disse.
Como presidente da Agência de Fomento do RN (AGN), a ex-deputada Márcia Maia traçou um perfil do público que vem recorrendo à agência para obter pequenos créditos. Do total, 60% são mulheres. A deputada citou exemplos de como uma rede de apoio, seja financeiro, de capacitação e orientação pode gerar uma reviravolta e transformar em verdadeiras vencedoras mulheres que se libertaram da condição de vítimas de violência doméstica, já que muitas têm esse grande entrave por dependerem financeiramente do agressor.
“No RN foram quase 20 mil operações financeiras realizadas por mulheres até 2020 e isso representa quase 60% do total”, afirmou. Ela citou vários exemplos de potiguares que deram uma verdadeira guinada na própria vida a partir do incentivo ao crédito e orientação. Um deles é o de uma empreendedora que saiu da informalidade e hoje é proprietária de uma loja física a partir do crédito.
Outro caso foi o de uma ex-empregada doméstica, que sofria violência doméstica e se separou do agressor. Mudou de cidade e passou a empreender com a ajuda das filhas e hoje são exemplos bem-sucedidos no seu ramo de negócios.
A vice-presidente da CDL Natal, Maria Luísa Fontes, afirmou que muitas mulheres apesar de já fazerem pequenos negócios informais não se enxergam como empreendedoras. “Elas precisam se revestir dessa condição e acreditarem no seu potencial”, afirmou.
Através do projeto Rede Mulher de Valor, a CDL tem contribuído para fomentar o empreendedorismo e tirar muitas potiguares da informalidade. “Pensamos numa forma de reprogramar a entidade para ser indutora geral de uma transformação sócio econômica na nossa cidade, pois as mulheres precisam estar em um ambiente em que se conectam com líderes, instituições e outras mulheres dando acolhida e suporte”, afirmou.
A Rede trabalha no momento com três grupos de mulheres, trabalhadores informais, com medidas protetivas ou em situação de vulnerabilidade e as apenadas. Na ocasião, a deputada Cristiane Dantas anunciou a destinação de emenda parlamentar de sua autoria de R$ 50 mil para o projeto.
Representando o Sistema Fecomércio, Fernando Virgílio de Macedo citou a tradição do RN no empreendedorismo feminino, com Clara Camarão, Maria do Céu Fernandes, Nísia Floresta, Auta de Souza e a ex-governadora Wilma de Faria. “A sensibilidade feminina é um grande diferencial e é de suma importância que elas tenham consciência disso”, afirmou. Ele citou a atuação do SENAC e do SESC na qualificação profissional.
Analista técnica de projetos do Sebrae, Maíza Pessoa destacou a necessidade de “empreender com propósito”, temática que vem sendo trabalhada pela entidade. “O empreendedorismo com propósito é importante porque a gente não é sozinho e muitas mulheres desconhecem a rede de apoio educativo ou financeiro, por exemplo, que elas podem contar”, exemplificou.
As barreiras para obtenção de crédito é o que muitas vezes desestimula os empreendedores de um modo geral. A gerente do Crediamigo, Bárbara Galvão, foi quem abordou o tema. O programa é realizado pelo Banco do Nordeste. “Todos nós precisamos de apoio e ele precisa vir de várias formas, seja na questão do crédito, como fazemos, ou de orientação, como o Sebrae. Mas também do apoio emocional devido às necessidades que essas mulheres têm de ser acolhidas na sua totalidade e não de forma fragmentada”, defendeu.
A defensora pública Anna Lúcia Raymundo, foi taxativa: “A mulher precisa sair de uma vida de submissão e de bloqueio afetivo, pois quando está vivendo a violência doméstica ela não enxerga as possibilidades. Temos que proteger essa mulher e peço a ajuda de todos que estão aqui, para que ela não tenha que sair da casa dela e que esse homem seja monitorado”, disse.
A defensora também participa da “Coletiva Nísia Floresta – Mulheres pela Equidade, Dignidade e Cidadania”, um projeto que tem foco nos debates de gênero, enfrentamento à violência contra a mulher, cidadania e em fortalecer o protagonismo feminino.