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A estratégia do PT envolve, além do peso de Lula, a disputa pelo poder da narrativa 

Um dos assuntos da sexta-feira e do final de semana foi a decisão do TSE de confirmar a inelegibilidade de Lula, que, desta forma, está impedido de concorrer à Presidência da República.
Em um estado de exceção em que estamos vivendo no Brasil e com o Judiciário se colocando de maneira partidária e questionável (“Um grande acordo nacional, com o Supremo com tudo”, como disse Romero Jucá, lembram?) esta decisão era esperada pelos movimentos progressistas e pelo próprio PT. Que há meses desencadeou um Plano B.
Que é bastante conhecido: O de lançar como candidato a vice-presidente na chapa de Lula o nome de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e que foi ministro de Educação nos Governos Lula e Dilma, sempre colhendo elogios. Dentro no Plano B, fazer Manoela D´Àvila, do PC do B, desistir da candidatura. Numa possível (na verdade provável) inlegibilidade de Lula, Haddad seria alçado à cabeça de chapa com Manoela como vice.
Foi assim que aconteceu e será registrada a chapa Haddad/Manuela, com PT e PC do B confiando na transferência de votos de Lula nos 40 dias que faltam para a eleição e na força da militância que elegeu um inimigo a ser batido na extrema-Direita.
Porém, nem tudo são flores na estratégia. Muitos petistas e eleitores progressistas se perguntam há meses porque a adoção de tática tão arriscada. Se não teria sido melhor ter lançado Haddad quando das convenções e que desta forma ele já seria bem mais conhecido e melhor avaliado nas pesquisas.
É válido pensar desta maneira e é característica da militância de Esquerda auto-questionamentos que fariam inveja a neurótico de filme francês. Mas, o fato é que esteve e está em jogo a batalha da (ou pela narrativa) e isso Lula e a direção do PT compreenderam como ninguém.
Narrativa é como a história é contada e como é assimilada por quem a ouve. E suas evidentes consequências. Uma narrativa pode gerar guerras ou termina-las.
Para efetivar o impeachment de Dilma Rousseff (aka Golpe) foi construída uma narrativa de que Lula e o PT eram os maiores ladrões da história do Brasil e que com o bem falante da língua portuguesa Michel Temer e os tucanos competentes e abnegados o Brasil voltaria a crescer e a corrupção seria varrida. A narrativa ajudou na campanha de 201, com antipetistas colhendo frutos eleitorais, como João Dória e Marcelo Crivella em SP e Rio de Janeiro.
Contudo, a sequência de fatos reverter a narrativa. O Brasil não cresceu, a crise aumentou, Temer se viu envolvido em escândalos de corrupção, apareceram malas de dinheiro de Geddel, Aécio caiu em desgraça política, Henrique Alves e Cunha foram presos. Enfim, havia a possibilidade da reversão da narrativa para boa parcela da população e Lula percebeu isso lançando uma candidatura a presidência que funcionava como um catalisador, um ato de reação.
Houve o julgamento e prisão, em tempo recorde para o Judiciário brasileiro, historicamente lento. Com Lula preso, questionou-se a candidatura dele, jurídica e politicamente. A decisão de mante-la e registrada no TSE foi a cereja no bolo da narrativa, que parte da militância, afobada em ver o “candidato real” na disputa, não queria ver.
O raciocínio de Lula e do PT era: “Para Lula não ser candidato, a decisão terá que partir de fora (leia-se do Judiciário)”. Como aconteceu. Lula esgotou todas as instâncias e possibilidades para ser candidato. O TSE o considera inelegível. Decisão tomada, portanto, por forças alheias ao PT.
Tivesse o PT desistido da candidatura Lula e em convenção registrado Haddad (ou mesmo qualquer outro), não apenas seria a admissão de que Lula talvez merecesse ter sido condenado e estar preso como deixaria no imaginário popular a hipótese “E SE o TSE confirmasse a elegibilidade de Lula?”. A narrativa seria jogada no campo das possibilidades e o Judiciário teria como “vender” a ideia – através da mídia – de que Lula foi quem admitiu a derrota.
Do jeito que aconteceu, Lula “sai da disputa” liderando todas as pesquisas e com potencial de transferir votos para Haddad e mantendo a narrativa de que é preso político, injustiçado.
Eleição se ganha com votos, com campanha competente, estratégias, palanques, poder econômico e apoios. Mas a narrativa tem poder sobre tudo isso.
Pelo Jornalista Cefas Carvalho

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