Lawrence Carlos Amorim de Araújo nasceu em Mossoró. Cresceu e estudou na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, mas foi no pequeno município de Almino Afonso, no Alto Oeste potiguar, que iniciou a carreira política. Foi eleito prefeito nas eleições de 2008 e reeleito quatro anos depois. Primeiro, vestindo a camisa do PP; depois, a do PMDB.
Hoje, aos 33 anos, recém-filiado ao Solidariedade, o jovem político sonha dar um salto considerável na sua carreira pública. Será candidato a deputado federal nas eleições de 2018, decisão tomada com o apoio do presidente do partido, deputado estadual Kelps Lima.
A missão, porém, não será das mais fáceis. Ele não terá o apoio da tradicional família Abel, que o fez prefeito de dois mandatos em Almino Afonso. O atual prefeito do município, Waldênio Amorim (PMDB), seu tio, já disse que apoiará o deputado federal Walter Alves. O líder político da família, ex-prefeito Bernardo Amorim, também vai crivar o voto em Walter.
Porém, não tira o ânimo de Lawrence, que passa a apresentar o seu nome como candidato de Mossoró e da região Oeste. “Estou conduzindo o projeto político como um nome novo, alternativo, representando a linha política do Solidariedade”, afirmou Lawrence, na longa conversa no “Cafezinho com César Santos”, na sede do JORNAL DE FATO.
O SENHOR foi prefeito de Almino Afonso, pequeno município do Médio Oeste potiguar, por dois mandatos, e agora pretende disputar uma vaga à Câmara dos Deputados. Um salto importante para um jovem político. Como o senhor imagina enfrentar esse desafio?
NÓS fomos convidados pelo Solidariedade, através do deputado estadual Kelps Lima (presidente estadual da sigla), para fazer parte de um novo projeto. Entendemos que o partido tem uma proposta alternativa, vem fazendo política de forma diferente, inovadora, e isso nos fez acreditar. Realmente, entendemos que esse é um momento que a população pede mudanças, novas alternativas, novos nomes. Pode até ser um nome que já esteja na política, mas que tenha um pensamento de fazer coisas novas, que passem essa certeza para o povo. De certa forma, é preciso ter certa experiência na política, porque também não podemos apostar em aventuras, simplesmente por ser voto de protesto. Precisamos apostar em coisas novas, sim, mas que tenha experiência, que conheça as necessidades e saiba buscar as soluções. O meu nome está colocado com esse perfil.
QUANDO o senhor fala em nome novo, mas com certeza experiência, procura se encaixar nesse perfil, porque apesar de ainda jovem já administrou uma prefeitura por oito anos?
FUI prefeito de Almino Afonso por dois mandatos consecutivos (2009/2015), então, tenho a experiência do que realmente acontece na base, onde o cidadão mora, onde ele tem seus problemas e reclama da presença do Estado. Isso nos credencia hoje a buscar, através do projeto de candidatura à Câmara dos Deputados, um novo passo na carreira política. Mas, quero dizer que esse é um projeto de partido, em que nós estamos trabalhando para consolidar a nossa postulação, entendendo que podemos representar Mossoró, Almino Afonso e toda a região Oeste. Inclusive, é importante frisar que a nossa região precisa de novos nomes, de novos mandatos, para buscar as melhorias para a nossa população.
O PRESIDENTE do seu partido, deputado Kelps, faz uma linha de oposição muito dura, radical de certa forma, e procura se consolidar como uma alternativa para enfrentar a política tradicional do Rio Grande do Norte. O senhor acredita que é possível estabelecer essa linha de atuação, diante das dificuldades inerentes aos partidos de pouca tradição?
ACREDITO que sim. O solidariedade vem trabalhando e crescendo diariamente, graças ao trabalho do nosso presidente. Hoje, o partido está presente em 150 municípios do estado, numa mostra clara que está crescendo. Há uma possibilidade muito grande de o Solidariedade eleger dois ou três deputados estaduais, a partir da forma de uma chapa própria, e há possibilidade também – por que não – de se eleger um deputado federal. Então, eu acredito que esse discurso que o nosso partido vem fazendo tem convencido as pessoas que estamos no caminho certo. Não é um trabalho fácil. Mas, por outro lado, você tem a possibilidade de construir um discurso próximo da população, se apresentar como representante do povo, e é isso que o Solidariedade está fazendo.
O SOLIDARIEDADE vai conseguir se manter firme nessa posição, mesmo no momento da formação de coligações, de chapas, em que as negociações são naturais no ambiente político-eleitoral?
SER oposição é muito difícil; o partido não tem espaço em governo, não indica cargo, não tem estrutura para caminhar. Fazer oposição é para os mais fortes, muitos cedem às seduções, às tentativas através de bondades do governo. Mas, o Solidariedade vem caminhando, muito bem conduzido pelo deputado Kelps, mantendo essa linha de ser uma proposta alternativa, de colocar contra tudo isso que está errado hoje na política. O partido continuará firme com esse propósito e isso tem conduzido o nosso trabalho. O Solidariedade tem pessoas em todos os municípios, vestidas com a camisa do partido, e trabalhando no sentido de apresentar uma proposta diferente, que as pessoas possam acreditar nas mudanças para o bem do Rio Grande do Norte.
O SENHOR fala no novo, porém a sua carreira política, até aqui, foi alicerçada pelos Abéis, tradicional família política da região Oeste, enraizada em Almino Afonso, um dos últimos redutos da velha política oestana. É possível, com esse perfil, transmitir a mensagem do novo? O senhor está se divorciando do grupo liderado por seu tio Bernardo Amorim, comandante dos Abéis?
NÃO se trata de separação de grupo. A minha pré-candidatura a deputado federal é um projeto que eu estou tocando juntamente com o Solidariedade. Nós temos familiares realmente há muitos anos atuando na política, a partir de Almino Afonso. É preciso reconhecer que esse grupo vem fazendo um trabalho que é aceito pela população, é tanto que isso vem credenciando a seguidas vitórias ao longo do tempo. Eu fui eleito e reeleito, conseguimos eleger meu sucessor (prefeito Waldênio Amorim, seu tio) com muita tranquilidade. Então, esse desgaste que a classe política enfrenta não nos atingiu porque nós trabalhamos de forma correta, atendendo os anseios da população, fazendo a coisa certa. Acredito que irei ter apoio de grande parte da população de Almino Afonso, porque estou credenciado através do trabalho que executei como prefeito. Nós inauguramos muitas obras no município de Almino Afonso, cuidamos da saúde das pessoas, reformamos e ampliamos a maternidade pública, construímos postos de saúde, implantamos a primeira etapa do saneamento básico, construímos praças de esportes, creches, reforçamos a educação de base, enfim, realizamos um trabalho que nos credencia levar o nosso projeto para todo o Rio Grande do Norte.
O SENHOR apoiou e ajudou a eleger o prefeito Waldênio Amorim (PMDB), seu tio. Mas, ele já anunciou que apoiará o deputado federal Walter Alves (PMDB); logo, o senhor não terá a ajuda do prefeito. Isso significa um rompimento?
POLITICAMENTE, ele tem a liberdade para apoiar quem ele quiser. O deputado Walter Alves é do partido do prefeito Waldênio, então ele tem essa opção. Eu acredito que isso não impede que eu continue o projeto de disputar um mandato de deputado federal, até porque o mandato de prefeito por oito anos, com alto índice de aprovação, me dá o crédito de buscar um projeto novo, alternativo. Não tenho nenhum problema pessoal-familiar; nossas diferenças são políticas, e encaro isso com naturalidade. Eu respeito a decisão de Waldênio, mas irei continuar tocando o meu projeto. Vou pedir o voto da população de Almino Afonso, estou credenciado para isso, tanto é que conseguimos eleger Waldênio com mais de 70% dos votos válidos, numa clara manifestação de aprovação da nossa gestão à frente da Prefeitura. A população deu a resposta positiva, acreditou na continuidade da gestão, e hoje o prefeito toca as muitas obras que iniciamos e projetamos no município.
APESAR de o senhor ter iniciado carreira política em Almino Afonso, as suas raízes são em Mossoró. O senhor nasceu em Mossoró, cresceu, estudou e reside na cidade. Agora, se apresenta como um pré-candidato a deputado federal de Mossoró. Isso significa que a política de Almino Afonso ficou para trás?
NÃO. Não significa isso. Eu continuarei presente na política de Almino Afonso, participando, ouvindo as pessoas, buscando soluções para os problemas. O trabalho que realizei como prefeito está marcado, não tem como apagar. As pessoas de Almino Afonso me procuram diariamente, têm em mim uma referência. Agora, lógico que moro em Mossoró, tenho família em Mossoró, nasci aqui, e tenho hoje Mossoró como uma base política. Acredito que a cidade, a segunda maior do estado, precisa continuar tendo uma representatividade forte na Câmara dos Deputados. Também é preciso ressaltar que a região Oeste precisa ampliar a sua representatividade. O Alto Oeste, onde engloba Almino Afonso, nunca elegeu um deputado federal. Acho que é o momento de conversar sobre a política de Almino Afonso. Estamos pensando em 2018. Esse é o nosso foco agora. No entanto, estamos sempre atentos às decisões que são tomadas em Almino Afonso, porque o município tem uma importância grande na nossa vida política, inclusive, vários grupos nos apoiam, como o do vice-prefeito Alvanilson Carlos (PSDB), do vereador Dodó Carlos (PSDB), presidente da Câmara Municipal José Adécio. Então, eu tenho uma base eleitoral no município, e me sentirei muito à vontade durante a campanha para bater à casa de cada um para pedir o voto.
O SOLIDARIEDADE tem trabalhado para fortalecer a disputa proporcional, com o projeto de reeleição do deputado Kelps e de sua candidatura a deputado federal. E a disputa majoritária? Qual o rumo que o partido está tomando?
O SOLIDARIEDADE tem uma decisão de não se coligar com nenhuma força tradicional. Nós podemos apresentar um nome ao Governo do Estado; já apresentamos o nome da atleta olímpica Magnólia Figueiredo (representou o RN e o Brasil em quatro Olimpíadas) ao Senado Federal. Também já conversamos com o capitão Styvenson Valentim (capitão da Lei Seca) e ele está avaliando o convite para ser candidato. Existe a possibilidade de fazer composição com outros partidos, desde que não sejam controlados por grupos tradicionais da política do estado. O Solidariedade tem sido bastante procurado, mas claro que nós vamos continuar nessa linha, defendida pelo presidente Kelps, de não se aliar a nenhuma força tradicional.
ESSA posição coloca o Solidariedade na busca de aliança com partidos de menor expressão. Historicamente, os pequenos partidos evitam aliança com siglas detentoras de mandatos proporcionais. O Solidariedade não corre o risco de ficar só?
O SOLIDARIEDADE já tem a chapa de deputado estadual formada; chapa própria. Para federal, estamos conversando com partidos que pensam como a gente e que não têm mandatos. E na disputa ao Governo, as coisas estão apenas começando. Nós não temos ainda nomes que digam “eu sou candidato a governador”. Então, existem muitas possibilidades. O Solidariedade está atento a isso, mas, repito, nosso partido vai buscar alianças alternativas, distante das forças tradicionais. O Solidariedade não vai ficar só, pode ter certeza.