A um mês de completar um ano no governo, o presidente Michel Temer chega a praticamente metade do seu mandato com uma queda vertiginosa de popularidade. De acordo com a última pesquisa divulgada, a CNI/Ibope, quase oito em cada dez brasileiros, ou 79%, não confiam no presidente. Mais da metade, ou 55%, acham o governo “ruim” ou “péssimo” e 73% desaprovam as suas ações. Um mês após assumir, 39% achavam a gestão “ruim” ou “péssima”, ou seja, houve uma alta de 16 pontos percentuais nesse indicador.
Na véspera do impeachment, 69% dos brasileiros achavam o governo Dilma ruim ou péssimo.
Os números refletem a insatisfação do brasileiro com a condução do País por vários motivos: a retomada tímida da economia, a persistência do elevado desemprego e as impopulares reformas propostas pelo governo (como a da Previdência e a Trabalhista), além do grande número de integrantes de alto escalão citados na Lava Jato. Tudo isso reduz a confiança dos cidadãos, dizem especialistas entrevistados pelo R7.
“O Temer era a esperança. As pessoas foram às ruas para tirar a Dilma, e o combate à corrupção era uma reivindicação, mas não houve avanço nessa agenda”, explica o diretor do Instituto Paraná Pesquisas Murilo Hidalgo — recente levantamento do instituto detectou que 55% dos eleitores acham o governo Temer “ruim” ou “péssimo”.
Ao divulgar a pesquisa, o gerente de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca, disse que nos últimos três meses contribuíram para a queda da popularidade de Temer questões como as reformas, o teto de gastos e o duro ajuste fiscal, que vem reduzindo investimentos do governo.
— Essas questões acabam afetando e se somam ao alto desemprego. As questões econômicas, em geral, são fator determinante na popularidade dos governos.
Dos indicadores econômicos sob Temer, os únicos positivos são o da inflação, sob controle e com projeção de queda, e o da taxa de juros, que pôde ser reduzida graças à inflação baixa. O problema é que a inflação está controlada simplesmente pela queda da demanda (os consumidores estão comprando pouco, então não há pressão nos preços). Aliás, esse é um dos motivos para explicar por que o desemprego continua subindo.
“As pessoas têm medo de perder emprego, têm medo de consumir. A autoestima das pessoas é baixa”, diz Hidalgo.
— Somado a um combate à corrupção que não é enérgico, isso leva à insatisfação.
O cientista político e doutor pela UnB (Universidade de Brasília) Leonardo Barreto explica o motivo de a popularidade de Temer estar tão baixa quanto a de Dilma antes do impeachment.
— Os indicadores que os cientistas políticos usam para explicar o índice de popularidade, de crescimento econômico e emprego são os indicadores onde o cidadão tem experiência prática e individual do estado do país, onde ele tem experiência empírica de como estão as coisas [quando ‘sente na pele’]. E o que aconteceu é que as condições herdadas do governo Dilma, com exceção da inflação, estão muito semelhantes. O volume dos escândalos de corrupção e a incapacidade do Congresso de processar a insatisfação das pessoas, tudo isso é muito semelhante ao governo Dilma. O que explica a continuidade dos indicadores é a continuidade das condições.
Em março, Temer pôde anunciar uma das raras boas notícias econômicas da sua gestão, a criação de empregos em fevereiro, após quase dois anos de fechamento de vagas. O otimismo, no entanto, durou pouco. Duas semanas depois, o IBGE divulgou que o País atingiu o recorde de 13,5 milhões de desempregados.
Falta de tato
Além da retomada lenta na economia, o governo Temer tem que lidar com a dificuldade e o desgaste de negociar reformas altamente impopulares, como a da Previdência e a Trabalhista, que agradam empresários e o setor financeiro mas desagradam grande parte do eleitorado, além de grupos organizados da sociedade civil, como associações de classe com alto poder político e as centrais sindicais dos trabalhadores.
No Congresso, integrantes da base aliada disseram, nos bastidores, que a reforma não será aprovada como está porque a retomada da economia ainda é insuficiente e os parlamentares não querem arcar com o ônus de aprovar uma reforma tão dura.
— O tema da reforma é uma pauta muito complicada e impopular que está no Congresso, sensibiliza a sociedade porque há impacto para todos. Ou o governo muda o texto ou não aprova. Além das mudanças aceitas na semana passada, com transição mais branda, proteção aos trabalhadores rurais, tem que mudar a idade mínima, para 60 anos para os homens e 58 anos para as mulheres.
Fora todos esses problemas e do potencial estrago que as novas revelações da Lava Jato podem trazer ao seu governo e a aliados muito próximos, o presidente Michel Temer ainda contou com a própria falta de tato para se comunicar com a maior parte do eleitorado brasileiro, as mulheres. A comunicação de Temer com as mulheres começou com o pé esquerdo quando ele anunciou um ministério só de homens.
Para piorar, no Dia das Mulheres, o presidente destacou a importância da mulher, ‘do quanto faz pela casa, pelo lar, do que faz pelos filhos’, ignorando que a mulher faz parte do mercado de trabalho e comanda 40% dos lares brasileiros. Elas também serão mais penalizadas pela reforma da Previdência, já que terão que trabalhar e contribuir cerca de sete anos a mais para se aposentar pelas novas regras.