Em pouco menos de duas horas de depoimento ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-ministro Antonio Palocci de “calculista, frio e simulador”, e negou que tenha feito qualquer tipo de acerto ilícito com a empreiteira Odebrecht.
“Se ele [Palocci] fosse um objeto, seria um simulador”, afirmou.
Lula prestou seu segundo depoimento a Moro nesta quarta (13), uma semana depois que seu ex-ministro da Fazenda afirmou que o petista avalizou um “pacto de sangue” com a Odebrecht, com o pagamento de R$ 300 milhões em vantagens indevidas em troca de manter o protagonismo da empreiteira no governo. O terreno ao instituto estaria incluído nesse valor.
Nesta ação, ele é acusado de se beneficiar de vantagens indevidas pagas pela empreiteira Odebrecht -incluindo a compra de um terreno que seria destinado ao Instituto Lula, e cuja negociação teria sido intermediada por Palocci.
O ex-presidente disse que Palocci nem sequer era responsável por assuntos do Instituto Lula (o que caberia ao seu presidente Paulo Okamotto), e afirmou que só se encontrava com o ex-ministro, depois de sua saída do governo, “de oito em oito meses”.
Durante a audiência, o Ministério Público Federal ainda apresentou uma pauta de reunião de Emílio Odebrecht, patriarca da empreiteira, com Lula, que foi entregue à investigação.
A reunião teria ocorrido no dia 30 de dezembro de 2010, nos estertores do governo Lula, no Palácio do Planalto.
No documento, o primeiro item da pauta é a “‘Passagem’ do histórico de parceria” – o que seria uma referência à troca de governo, de Lula para Dilma, e ao acerto ilícito feito com o intermédio de Palocci.
Na mesma agenda, ainda são listados, debaixo do título “Com ele”, os itens: “Estádio Corinthians, Obras Sítio, 1a Palestra Angola e Instituto”.
O petista disse que o documento é falso e “uma mentira”.
Lula ainda fez críticas à atuação da Polícia Federal e do Ministério Público e disse ver com “desconfiança” determinadas operações.
ATOS
Lula deixou a sede da Justiça Federal em Curitiba pouco antes das 16h30, de carro, sem falar com a imprensa.
Na saída, cinco moradores que vestiam camisas verde e amarelas e erguiam bandeiras do Brasil gritaram “ladrão” e “bandido”. “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”, cantavam.
Logo depois de sua saída, a Polícia Militar desmontou as grades que formavam o perímetro de segurança em torno da sede da Justiça. Os carros e pedestres voltaram a circular normalmente.
O petista segue agora para um hotel, onde tomará um banho, e depois participa de ato na praça Generoso Marques, no centro da cidade, com militantes petistas.
Manifestantes a favor da Lava Jato e que pediam a condenação de Lula se concentraram no museu Oscar Niemeyer, a cerca de dois quilômetros da sede da Justiça. Não houve registro de confrontos entre militantes.
Moro também ouviu o ex-assessor de Antonio Palocci, Branislav Kontic, na audiência desta quarta (13).