O escândalo da Petrobras. As delações envolvendo políticos de todos os partidos nas doações eleitorais irregulares de empresas. O pagamento de propinas para políticos e autoridades, sobretudo do PT. A denúncia contra o presidente Michel Temer. A impactante condenação do ex-presidente Lula. A crise ética. O crescimento do sentimento da antipolítica. Esse ambiente indica que haverá uma renovação na Câmara acima dos 62% registrados em 1990, nas eleições que se seguiram à posse de Fernando Collor de Melo. O partido mais atingido naquela ocasião foi o PMDB, que elegeu a maior bancada nas eleições da Constituinte (1987-1988). Agora, a previsão é de que todas as grandes legendas sejam afetadas e se aprofunde a fragmentação na Câmara, a exemplo do que já ocorreu nas eleições municipais de 2012, como avalia o cientista político Antônio Carlos Queiroz, do DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).
Para manter seus mandatos, os atuais 513 deputados terão uma vantagem comparativa: acesso a recursos orçamentários do governo Temer, leia-se emendas parlamentares, o que lhe poderão assegurar mais visibilidade pública em seus redutos eleitorais, e maior manipulação das verbas do Fundo Partidário. Isso não significa, no entanto, uma conversão automática em votos. Não bastassem as denúncias de corrupção envolvendo a classe política, a polêmica reforma trabalhista e o congelamento dos gastos públicos, provocado pelo aumento do déficit, são elementos catalisadores da rejeição da população. “Os números apontam que haverá um congelamento dos gastos, o serviço público vai parar e há ainda uma repulsa muito grande aos que são identificados como integrantes da base de apoio ao governo”, constata Antônio Carlos Queiroz.
Renovação suja
Renovação não significa, necessariamente, a ascensão de novos políticos. Pode representar, por exemplo, o regresso à Casa de políticos que já cumpriram mandatos no passado. O retorno de ex-parlamentares, segundo definição do cientista político Murilo Aragão, da Arko-Advice, constituiria “uma renovação suja”. Aragão elenca outros fatores capazes de ameaçar a reeleição dos atuais deputados federais. São eles a ilegalidade do financiamento empresarial, que reduz o poder de quem cumpre o mandato atualmente, o crescente peso das redes sociais e o ambiente favorável à antipolítica. “O clima criado pela corrupção nas recentes campanhas eleitorais atrapalha os velhos políticos”, resume Aragão. A renovação tende a aprofundar outro fenômeno já verificado no último pleito: a fragmentação partidária. Hoje são 25 partidos representados na Câmara. Novos partidos nanicos devem emergir das urnas. Ou seja, o horizonte se descortina a partir de um cenário sombrio para todo mundo. As urnas serão implacáveis: não pouparão ninguém.