A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Índia é mais um dos imunizantes que demonstraram alto nível de proteção. A notícia foi divulgada ontem pelos desenvolvedores do fármaco, a empresa Bharat Biotech, que contabilizou uma taxa de mais de 80% de eficácia da Covaxin. O índice é resultado de uma análise prévia da terceira fase dos testes clínicos — além da conclusão desse estudo, falta a revisão por pares.
O imunizante já é usado no país asiático, após uma aprovação polêmica. A expectativa do grupo farmacêutico é de que ela seja comercializada, em breve, para todo o mundo — o Brasil anunciou, na semana passada, a compra de mais de 20 milhões de doses.
A análise prévia incluiu uma revisão de dados de segurança. Os cientistas observaram poucos efeitos adversos graves e os consideraram “equilibrados entre os grupos vacina e placebo”. Os ensaios clínicos vão continuar, e uma segunda análise prévia será divulgada quando forem registrados 87 casos de infecção pelo novo coronavírus entre os analisados, além de uma revisão final após a marca de 130 infectados. “Todos os dados da segunda análise intermediária e da final serão compartilhados por meio de servidores de pré-publicação e serão submetidos a um periódico revisado por pares para publicação”, informou, em comunicado, a Bharat Biotech.
Variantes
Outra análise com a vacina — dessa vez feita pelo Instituto Nacional de Virologia da Índia — mostra que ela foi eficaz contra as cepas do coronavírus que surgiram no Reino Unido. “Covaxin demonstra tendência de alta eficácia clínica contra a covid-19, além de uma imunogenicidade significativa contra essas variantes emergentes que têm se espalhado rapidamente”, frisou Krishna Ella.
Assim como a vacina Coronavac, a Covaxin utiliza, em sua fórmula, um vírus inativado em laboratório para carregar a forma inteira do Sars-CoV-2. Outros imunizantes apostaram no uso de apenas um pedaço do patógeno — como o desenvolvido pela Universidade de Oxford. A vacina indiana é administrada em duas doses, com 28 dias de intervalo entre as aplicações, e pode ser armazenada em freezer comum (temperatura entre 2 a 8 °C).
Ana Karolina Barreto Marinho, imunologista e membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), destaca como ponto alto dos dados da Covaxin o perfil distinto dos participantes do ensaio clínico. “São resultados expressivos de eficácia que foram obtidos em um grupo bastante diversificado, com um número considerável de idosos e de pessoas com comorbidades. Isso é importante porque abre a possibilidade de usar esse imunizante em todo o público. Além disso, há o fato de o projeto ser tocado por uma empresa que já desenvolveu outras vacinas”, detalhou. “É algo positivo para a Índia e para todo o mundo. Teremos mais uma opção para prevenir a covid-19.”
A especialista também explica que a estratégia usada pelos cientistas no desenvolvimento do imunizante foi inteligente e pode explicar os resultados obtidos com as variantes britânicas. “As novas cepas carregam mutações em proteínas distintas. Então, quando você usa, na fórmula da vacina, o patógeno inteiro e não apenas a proteína spike, que é a responsável pela replicação do patógeno, isso garante que essas mudanças não passem despercebidas e a resposta imune ainda seja alta.”
A Covaxin é aplicada na população indiana desde janeiro, antes da conclusão dos dados relativos à última fase de análises em voluntários. A decisão de antecipar a aplicação das doses fez com que muitos profissionais de saúde da Índia que estão na linha de frente do combate ao vírus se negassem a receber o imunizante.