Secretário Luis Mauro admite que a construção de um muro mais afastado tirou a visão das torres de vigilância que já existiam na Penitenciária de Parnamirim. Para escapar, detentos usaram um túnel.
Construção de um muro sem guaritas – que prejudicou a visão dos guardas que trabalham nas torres de vigilância que já existiam no entorno da Penitenciária Estadual de Parnamirim – facilitou a fuga de 91 presos na madrugada desta quinta-feira (25). Foi a maior debandada da história do sistema prisional potiguar. Quem admite a falha é a própria Secretaria de Justiça e da Cidadania do Rio Grande do Norte.
O muro atrapalhou, deu vantagem para os internos e proteção visual. Depois de fazer o muro tinha que reestruturar, fazer as guaritas externas, que não foram feitas. Os policiais militares ainda estão nas guaritas internas, que perderam a funcionabilidade devido ao muro que foi colocado”, afirmou o titular da Sejuc.
O secretário reconhece que falta de efetivo também prejudica a segurança do presídio. “Quatro agentes pra tomar conta de 589 internos é humanamente impossível. Seriam necessários, só no plantão, 15 agentes por turno pra fazer o serviço”, informou. Ele ressalta que este problema deve ser resolvido com o concurso público para agentes penitenciários que está em andamento.
Segundo Luis Mauro, os presos foram transferidos do pavilhão onde começa o túnel para instalação de grades. A Sejuc também criou, junto com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), uma força-tarefa para recapturar os fugitivos. Até agora, nove dos 91 foram recapturados.
Celas sem grades
Segundo o secretário da Sejuc, os presos da PEP estão soltos dentro da unidade desde 2015, quando houve uma rebelião generalizada e as grades das celas foram arrancadas. O resultado disso é que os detentos circulam livremente pelos dois pavilhões e áreas de convivência da penitenciária. “Não dá pra realizar nenhum procedimento nestas condições, com os detentos soltos”, admitiu Luis Mauro. Agora, a unidade deve passar por reformas, segundo o secretário.
A fuga
Segundo a Polícia Militar, a debandada aconteceu por volta das 4h. Após a descoberta da fuga, a direção da unidade pediu reforço para a segurança na área externa. Com a chegada de mais policiais, houve buscas e oito fugitivos foram recapturados perambulando pela região.
A PM também informou que pelo menos dois carros e uma motocicleta foram vistos dando apoio ao resgate dos presos. Os fugitivos também trocaram de roupa para dificultar a identificação. No estado, o sistema penitenciário adotou camisa branca e bermuda azul como uniforme padrão dos presos.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), todas as torres de vigilância no entorno da penitenciária estavam ocupadas durante a fuga. Inclusive, a Sesed acrescenta que foi um dos guariteiros quem percebeu a movimentação, fez disparos de advertência e evitou que a debandada fosse maior.
Esta foi a segunda fuga registrada na PEP este ano. A primeira foi no dia 7 de janeiro, quando 14 detentos escaparam. Na ocasião, um buraco também foi escavado no pé do muro. Um policial militar que trabalhava em uma das guaritas da unidade, suspeito de ter facilitado a fuga, foi afastado.
Sistema em calamidade
O sistema penitenciário potiguar está em calamidade pública desde o dia 17 de março de 2015, após uma onda de rebeliões que atingiu pelo menos 14 das 33 unidades prisionais do estado. O decreto, renovado em março deste ano, tem validade por mais 180 dias.