Nunca, como agora, prevaleceu na política internacional a expressão cunhada nos anos 60 por McLuhan, intelectual canadense, de que o “mundo é uma aldeia global”.
Nos mais variados locais do planeta observam-se reações políticas idênticas, com posicionamentos semelhantes do eleitor, país a país.
Aqueles que protestavam, mas não compareciam às urnas, mudaram o comportamento e revelam apoio à ascensão do populismo nacionalista e xenófobo.
Generalizou-se globalmente a demonização da política, que é grave risco para as liberdades democráticas. A extrema direita, tão nociva quanto à extrema esquerda, prega “modelo novo”, em cuja origem não há compromisso com o espírito público, que preserva à visão social.
Ao contrário, cultiva a concepção exclusivamente privatista, que conduz ao egoísmo e ao individualismo. Nesse contexto, o discurso político dos que dizem encarnar as mudanças, passou a cultivar o medo, falso moralismo, desesperança, ódio, caos, trevas, com propostas de pavor, como por exemplo, o muro nas fronteiras do México e Israel, além de condenações sistemáticas às migrações.
Estimula-se o espírito soturno do eleitorado, através de soluções simplistas e óbvias para problemas inquietantes e complexos (sobretudo corrupção e violência), que qualquer um entende no seu dia a dia, mas se revelarão fatalmente inexequíveis.
O resultado é o histriônico Donald Trump no poder, mesmo sem ter sido o mais votado. Na Europa, exemplos próximos ocorreram na Áustria, Polônia e Suécia.
Na Alemanha, França e Itália, historicamente países com cenários de alternância de poder, surgiram movimentos nacionalistas radicais: o Alternativa, na Alemanha; Frente Nacional da França e o Movimento Cinco Estrelas, da Itália.
Segundo o historiador britânico Arnold Toynbee, a história se move em ciclos, que se alternam. Esse fenômeno sócio-político começa a desenhar-se na América, como forma de reação ao conservadorismo patológico do presidente Trump.
Movimentos populistas de esquerda ganham força e tudo poderá acontecer, caso realmente se consolide a candidatura presidencial do senador democrata Bernie Sanders.
O país berço da democracia corre o risco de substituir um extremo por outro, o que é preocupante.
Os últimos fatos no Congresso americano mostram agravamento da insanidade trampista, que mantém a ideia fixa da construção de um muro, na fronteira com o México.
Pesquisa recente mostra 53% responsabilizando Trump e 29% culpando os democratas no Congresso. O projeto cobriria uma área de 3,1 mil quilômetros e o orçamento é de US$ 25 bilhões.
Os democratas freiam o governo. Porém, Trump insiste nessa aberração, justamente quando se comemora o vigésimo nono ano, da queda do muro de Berlim, também conhecido como Muro da Vergonha, que demonstrou ser essa via ultrapassada para solução de conflitos.
Enquanto isso, o governo americano está travado, com o presidente se recusando a aprovar o orçamento para 2019, se não for incluído o financiamento do muro na fronteira mexicana (“shutdown”).
Os fatos notórios desmentem Trump, que desconhece a importância histórica da presença mexicana no desenvolvimento dos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia.
Desde 2014 reduziram-se as prisões na fronteira. Famílias e crianças que chegam são mais de países centro americanos, do que mexicanos. Há 35 milhões de pessoas de origem mexicana no país, das quais, 24 milhões já nascidos nos Estados Unidos.
A incógnita é se a xenofobia e o nacionalismo doentio prevalecerão nas relações sociais e políticas.
Ou, o planeta marchará para a previsão do sociólogo britânico, Anthony Giddens, que considera “A democracia em crise por não ser suficientemente democrática. É necessário democratizar a democracia, dando mais poderes aos cidadãos” para colocar o mercado à serviço da sociedade e não a sociedade escrava do mercado.
A verdade é que, o mundo transformado em “aldeia global”, está literalmente de “cabeça pra baixo”. Só resta aguardar, o que acontecerá no futuro…