O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma agremiação política de base, com militância orgânica e uma capacidade impressionante de provocar paixões e ódios a partir de seu estandarte chamado Luís Inácio Lula da Silva.
Ontem o PT voltou a sentir o gosto da derrota em uma disputa presidencial após 20 anos e quatro vitórias consecutivas sobre o PSDB. Mas como em 1989, o adversário era outro partido e fora do sistema político.
Jair Bolsonaro, agora presidente eleito, travestiu-se de antissistema e galvanizou para si o eleitorado ressentido com as decepções provocadas pelo PT.
A legenda ama receber apoios em nível nacional, mas nunca aceita apoiar. O resultado da eleição mostrou que o partido sobreviveu a todo desgaste dos últimos quatro anos, mas fica a sensação ainda que questionável de que uma aliança com Ciro Gomes (PDT) lá atrás teria evitado o resultado de ontem.
O PT acreditou que dava e preferiu correr o risco de perder a presidência ao de abrir mão da hegemonia da esquerda.
O partido mostrou que tem força apesar dos passares.
Tem que ser muito forte para sobreviver a um processo de desconstrução e ainda assim eleger quatro governadores e a maior bancada da Câmara dos Deputados.
Mas o PT se perdeu no caminho em redutos importantes como o Rio Grande do Sul onde conquistou suas primeiras administrações relevantes e São Paulo onde sempre foi contraponto aos tucanos hegemônicos. O PT foi empurrado para o Nordeste onde cresceu compensando a diminuição nas outras regiões.
Mas é preciso recuperar o eleitorado do Sudeste e do Sul que criou aversão ao petismo para retomar o Palácio do Planalto em 2022.
Aqui mesmo no Nordeste existem setores da sociedade que estão ressentidos e a bronca vai além da corrupção. São mágoas dos debates nas redes sociais em que os militantes petistas os rebaixam a condição ignorantes ou iletrados. Além do uso vulgarizado do termo fascista usado para enquadrar o interlocutor.
Quando realmente a expressão tinha sentido foi olimpicamente ignorada pela maioria dos eleitores.
O monopólio da sugestão de autocrítica não cabe apenas ao PT, mas o petismo de fato precisa refletir. A legenda comandará a oposição Governo Bolsonaro, mas para fazer isso com credibilidade terá que trabalhar para se reencontrar com o eleitorado que abandonou nos últimos anos e não conseguiu atrair com o discurso em defesa da democracia.
A fala de Mano Brown na reta final da campanha é por demais realista. O PT precisa reaprender a falar a linguagem do povo. Para o bem ou para o mal Bolsonaro fez isso com maestria nos últimos anos a ponto de superar todos os rótulos negativos e chegar à presidência a partir de 1º de janeiro credenciado por uma votação consagradora.
O PT e o petismo terão que reaprender a conquistar corações e mentes, principalmente na classe média.