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AS VOZES DA DITADURA

Um dos aspectos talvez mais relevantes na paralisação dos caminheiros foi o apelo de muitos deles para que houvesse uma intervenção militar, revelando que uma parte ou são ligados ou manipulados pela extrema direita.
Os  chamados blackblocs do fascismo – que se aproveitaram da situação para provocar bloqueios no abastecimento de combustíveis em todo o país – tem uma atuação que antecede a paralisação dos caminhoneiros e com objetivos bem claros: criar um clima de desordem que possa ajudar para uma intervenção militar.
Como disse o jornalista Janio de Freitas no artigo “A voz da ditadura” (Folha de S. Paulo, 31/05/2018) “A infiltração político-partidária nos caminhoneiros nada tem de anormal. É comum que esses movimentos expressem confrontos temáticos entre partidos, e militantes ajam nas ruas pela causa partidária. O que houve de grave, agora, foi a liberação dos apelos à derrubada da democracia, que ainda nem se livrou das fraldas (…) A população mal informada, carente de percepção política e sugada pela crise não pode ser obstáculo à pregação do salvamento ilusório”. E acrescenta “A ideia não poderia ter nem sequer a exposição que lhe é dada agora: a Constituição pressentiu e teve o cuidado de proibir qualquer pretensão contra o regime por ela dado ao país —e apenas iniciado em 30 anos, contra os poderes tradicionais”. A Constituição considera como crime inafiançável e imprescritível (artigo 5º, inciso XLII) “a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”.
O grande perigo dos que defendem intervenção militar, como muitos caminhoneiros, é que suas ações (e intenções) possam ir além das faixas e gritos porque certamente não vão desaparecer com o fim da paralisação, mesmo que alguns possam eventualmente responder por atos criminosos.
Se o artigo da Constituição estabelece que se trata de crime, por que não há desdobramentos desses pedidos de intervenção militar com processo contra seus defensores? Por que a tolerância por parte das instituições, como a polícia e o judiciário, que deveriam defender a democracia contra grupos violentos e alguns claramente fascistas que proliferam e se expuseram na paralisação dos caminhoneiros?
Onde estão os que combateram o “lulopetismo” um pretenso “governo bolivariano” (sem ter a mínima idéia sequer de quem foi Simon Bolívar) ou os que gritavam que “nossa bandeira jamais será vermelha”? Era mesmo contra a corrupção e em defesa da democracia? Então, por que se calam? O silêncio serve de estímulo e só ajudam a alimentar as chocadeiras do ovo da serpente do fascismo.
Num momento em que se constata o crescimento da erosão da confiança da população nas instituições políticas, no governo, partidos e Congresso Nacional, em que pesquisas mostram a existência de uma preocupante desafeição à democracia, o desdobramento disso é a abertura de um espaço para o crescimento de grupos de extrema direita, que se insurge contra o sistema político e a própria democracia e assim pavimentando o caminho para uma ditadura.
Devia ser motivo de preocupação o fato de que logo após o início da paralisação um grupo de manifestantes obstruiu uma parte da região da Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pedindo a volta da ditadura militar.
Há também os que se alimentam da ignorância política como os que acusaram grandes empresas de comunicação e seus jornalistas, como a Globo, de serem comunistas… revelando assim  uma completa ignorância do que é e foi a Globo ao longo do tempo, desde o início da ditadura militar.
No artigo “Os criadores de feras” (01/06/2018), Fernando Brito diz que “Não são os lunáticos hidrófobos que ameaçam a democracia e a liberdade no Brasil. Eles são produto de algo muito pior: a glorificação da estupidez e a moralidade dos cínicos, cúmplices e beneficiários de um sistema de espoliação do Brasil”. São os alimentadores da ignorância.
A situação em que o país se  encontra hoje é uma das conseqüências do golpe de agosto de 2016, quando as classes dominantes brasileiras, com os apoios que se conhece, no judiciário, no Congresso Nacional e na grande mídia, atropelou a Constituição e a própria democracia. O resultado é um país à beira do caos, com um governo fraco, refém de um Congresso o qual muitos dos seus integrantes, que o apóiam, estão sob suspeição, um presidente incapaz de governar e sem nenhuma saída viável para o país. A paralisação dos caminhoneiros apenas evidenciou a sua fragilidade: acuado, enfraquecido, fazendo concessões e revelando o fracasso de sua política econômica.
Com isso cria-se um perigoso vazio que pode ser preenchido com os que defendem saídas autoritárias.  Como disse Afrânio Silva Jardim, professor de Direito da UERJ “O fascismo não precisa de muito mais além de ignorância política e força bruta: Fanatismo, ignorância e violência, pavimentam o caminho para o fascismo”. Que nos juntemos às vozes dos que defendem à democracia e que possa ser mais poderosa dos que as vozes dos que defendem ditadura.

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